A zona costeira brasileira estende-se por mais de 6 mil km, abrangendo uma área de aproximadamente 3 milhões de km2, com ampla variedade de ecossistemas: manguezais, recifes de corais, dunas, restingas, praias arenosas, costões rochosos, lagoas e estuários. Estes ambientes abrigam inúmeras espécies da flora e fauna, muitas das quais endêmicas, e algumas ameaçadas de extinção (1).
Da mesma forma, na região litorânea do Estado de Sergipe, há uma grande diversidade de ambientes: restingas, dunas, lagoas e manguezais, além da presença de tabuleiros costeiros caracterizados por súbita elevação do terreno, cobertos por vegetação de transição cerrado/floresta. Além dessas feições associadas aos diferentes tipos de vegetação, é importante mencionar a existência de inúmeras lagoas normalmente relacionadas às depressões entre os cordões dunares, as Lagoas Costeiras.
Dunas fósseis e Lagoa Costeira (Abaís), região litorânea no município de Estância. |
A existência das lagoas costeiras está vinculada às transgressões marinhas que ocorreram durante o Quaternário, quando surgiu a maioria das lagoas costeiras do Brasil. Ocorrem ao longo do litoral brasileiro constituindo um dos conjuntos de ecossistemas aquáticos continentais mais representativos. Apresentam diferentes tamanhos e características, sendo permanentes quando mantidos por afloramento do lençol freático e temporários em função da acumulação de água em épocas de precipitação (2).
Panorâmica da baixada litorânea adjacente às dunas recentes - Clique na foto para ampliar. |
Lagoas costeiras, estuários e manguezais são de grande importância para a fauna aquática, por constituírem locais de refúgio, reprodução, criatório e fonte de nutrientes. Muitas espécies de aves e mamíferos frequentam esses locais em busca de alimentação. Representam o ambiente ideal para algumas espécies, defendendo as terras da agressão da salinidade e preservando os litorais da erosão marinha. Funcionam como reguladores do clima, além de possuírem grande importância econômica, social e turística quando utilizados de forma racional (2).
São ambientes aquáticos pouco estudados. A supressão desses ecossistemas vai eliminar inúmeros nichos ecológicos, empobrecendo a biodiversidade, alterando o clima e perturbando as permutas entre águas superficiais e subterrâneas.
Região sul da capital Aracaju - Panorâmica das lagoas em Aruana/Mosqueiro. Clique na foto para ampliar |
A imagem acima é uma amostra do descaso com as lagoas costeiras em Sergipe. Nestes ambientes, o meio aquático é submetido a diversas formas de agressão. Poluição e contaminação (lixo, esgoto) muitas vezes levam estes recursos a um desequilibro com consequências irreversíveis a toda fauna e flora que nele habitam e o utilizam para sobrevivência.
Lagoa sendo dragada, zona de expansão de Aracaju. |
A retro-escavadeira (acima) não está só descaracterizando a fisionomia da lagoa, mas também a flora e a fauna subaquática e anfíbia. Uma das vítimas de tamanha crueldade é o quelônio Phrynops geoffroanus cf. que vive nas lagoas e precisa ficar enterrado na lama durante as épocas de pouca precipitação.
Nymphoides sp. ocorrente em diversas lagoas do estado. |
Apesar do Litoral Sul de Sergipe ter sido contemplado com a criação de uma APA (Área de Proteção Ambiental) e contar instrumentos de planejamento como o Zoneamento Ecológico-Econômico, Plano de Manejo, Planos de Intervenção das Orlas Marítimas e Conselho Gestor, os processos de degradação iniciados antes da criação da APA estão sendo intensificados, o que compromete a manutenção dos ecossistemas naturais(1).
Bibliografia consultada:
1 - OLIVEIRA, S. S. I; COSTA OLIVEIRA, D; GOMES, L. J; FERREIRA, R. A; (2008). Indicadores de sustentabilidade: diretrizes para a gestão do turismo na APA Litoral Sul de Sergipe. Caderno Virtual de Turismo, vol. 8, núm. 2, pp. 46-55. U. F. R J.
2 - NASCIMENTO, A. P. (2010). Análise das Atividades Antrópicas em Lagoas Costeiras. Estudo de Caso da Lagoa Grande em Paracuru-Ceará.
3 - AB’SABER, A. (2005). Litoral do Brasil. São Paulo: Ed. Meta Livros, .
4 - ESTEVES, F. A., (1998). Fundamentos de Limnologia. 2a Ed. Rio de Janeiro, Interciência/ FINEP, 1998. 602 p.
Postagem em construção!
Boa tarde a todos
ResponderExcluirFui professora na UFSE entre 1994 e 2000. Ministrava, entre outras,a disciplina "Limnologia" e tive oportunidade de desenvolver alguns trabalhos (apresentados como resumos em congressos nacionais e internacionais, além de um efetivamente publicado)com as lagoas do sul (Abaís, Lagoa Azul e Gururema)e do Norte (complexo de lagoas em Pirambu), além de alguns ambientes de brejos costeiros. Posso enviar para o blog estas informações. Elas podem dar uma idéia do que existia naquela época e estimular novos trabalhos.
São ambientes vitais para a manutenção de inúmeros organismos além do incontestável valor paisagístico.
Abraços a todos
Excelente comentário Dra. Erminda! Aguardaremos suas contribuições.
ResponderExcluirBelo artigo Clóvis. Gostaria de complementar destacando a importância destas áreas para a comunidade de avifauna aquática que ocorre no estado de Sergipe. Alguns estudos realizados pelo Laboratório de Biologia da Conservação da UFS indicam que os ambientes úmidos da zona costeira sergipana concentram uma grande riqueza e abundância de espécies de aves residentes, além de espécies migratórias provenientes do Hemisfério Norte (EUA, Canadá, Ártico...) e de partes mais austrais do Hemisfério Sul, que fogem dos rigorosos invernos e utilizam nosso litoral para descanso e alimentação.
ResponderExcluirE infelizmente, os resultados já apontam algumas ações antrópicas que estão interferindo no ciclo biológico destas aves. Á exemplo da reforma da Orla da Atalaia, onde antes se concentrava um grande número de espécies migratórias e que hoje esse número está bastante reduzido. Outro exemplo são as lagoas e brejos da zona de expansão de Aracaju, que são importantes áreas de reprodução de várias aves e que são cada dia mais degradadas.
Anderson Gomes
Anderson,
ResponderExcluirObrigado pelo incentivo, estamos apenas começando esta tarefa, que é um dever de ofício para nós biólogos. Como você mesmo disse "os resultados já apontam algumas ações antrópicas que estão interferindo no ciclo biológico destas aves". Tais ações, de fato, ameaçam a existência desses ambientes. Vamos precisar do apoio de todos aqueles capazes de perceber a urgência de medidas cabíveis. Contamos com seu apoio!