sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Degradação ambiental: falta de planejamento resulta em destruição de lagoas costeiras.


A zona costeira brasileira estende-se por mais de 6 mil km, abrangendo uma área de aproximadamente 3 milhões de km2, com ampla variedade de ecossistemas: manguezais, recifes de corais, dunas, restingas, praias arenosas, costões rochosos, lagoas e estuários. Estes ambientes abrigam inúmeras espécies da flora e fauna, muitas das quais endêmicas, e algumas ameaçadas de extinção (1).
Da mesma forma, na região litorânea do Estado de Sergipe, há uma grande diversidade de ambientes: restingas, dunas, lagoas e manguezais, além da presença de tabuleiros costeiros caracterizados por súbita elevação do terreno, cobertos por vegetação de transição cerrado/floresta. Além dessas feições associadas aos diferentes tipos de vegetação, é importante mencionar a existência de inúmeras lagoas normalmente relacionadas às depressões entre os cordões dunares, as Lagoas Costeiras

Dunas fósseis e Lagoa Costeira (Abaís), região litorânea no município de Estância.
A existência das lagoas costeiras está vinculada às transgressões marinhas que ocorreram durante o Quaternário, quando surgiu a maioria das lagoas costeiras do Brasil. Ocorrem ao longo do litoral brasileiro constituindo um dos conjuntos de ecossistemas aquáticos continentais mais representativos. Apresentam diferentes tamanhos e características, sendo permanentes quando mantidos por afloramento do lençol freático e temporários em função da acumulação de água em épocas de precipitação (2).


Panorâmica da baixada litorânea adjacente às dunas recentes - Clique na foto para ampliar.
Lagoas costeiras, estuários e manguezais são de grande importância para a fauna aquática, por constituírem locais de refúgio, reprodução, criatório e fonte de nutrientes. Muitas espécies de aves e mamíferos frequentam esses locais em busca de alimentação. Representam o ambiente ideal para algumas espécies, defendendo as terras da agressão da salinidade e preservando os litorais da erosão marinha. Funcionam como reguladores do clima,  além de possuírem grande importância econômica, social e turística quando utilizados de forma racional  (2)

São ambientes aquáticos pouco estudados. A supressão desses ecossistemas  vai eliminar inúmeros nichos ecológicos, empobrecendo a biodiversidade,  alterando o clima e perturbando as permutas entre águas superficiais e subterrâneas. 

Região sul da capital Aracaju - Panorâmica das lagoas em Aruana/Mosqueiro. Clique na foto para ampliar
A imagem acima é uma amostra do descaso com as lagoas costeiras em Sergipe. Nestes ambientes, o meio aquático é submetido a diversas formas de agressão. Poluição e contaminação (lixo, esgoto) muitas vezes levam estes recursos a um desequilibro com consequências irreversíveis a toda fauna e flora que nele habitam e o utilizam para sobrevivência.

Lagoa sendo dragada, zona de expansão de Aracaju.
A retro-escavadeira (acima) não está só descaracterizando a fisionomia da lagoa, mas também a flora e a fauna subaquática e anfíbia. Uma das vítimas de tamanha crueldade é o quelônio Phrynops geoffroanus cfque vive nas lagoas e precisa ficar enterrado na lama durante as épocas de pouca precipitação.

Phrynops geoffroanus cf. o cágado d'água comum nas lagoas costeiras. Foto 1: Clóvis Franco. 
Foto 2:  Cortesia do  Herpetólogo  Daniel Oliveira Santana.


A biodiversidade nestes ambientes é elevada contribuindo para o sustento de muitas comunidades. Lagoas são conhecidas como depositárias da biodiversidade aquática. Em Sergipe ainda não foi realizado um levantamento da composição florística e da estrutura da comunidade de macrófitas aquáticas das lagoas costeiras. Entretanto algumas espécies ocorrentes foram catalogadas graças aos esforços de botânicos abnegados! Por exemplo, as plantas com folhas flutuantes  Nymphoides sp. e  Nymphaea spp., que são espécies generalistas.
Nymphoides sp.  ocorrente em diversas lagoas do estado.
Folhas flutuantes de Nymphaea spp. -   Shultesia sp. (identificada por Nascimento-Jr.)


As lagoas costeiras de Sergipe suportam uma rica fauna, sobretudo de aves. Jaçanã (Jacana jacana)  e o Frango-d'água azul (Porphyrula martinica) vivem nas lagoas com vegetação aquática.  Alimentam-se de sementes, brotos de plantas, insetos, moluscos, pequenos crustáceos e peixes.

Jaçanã e Frango d'água azul. 1-  Itaporanga; 2- Pirambu.
As lagoas apresentam uma composição de microalgas determinada pelas condições físicas e químicas da água. Observa-se uma dominância de desmídeas e algas filamentosas verdes. A maioria das espécies é bentônica, podendo  encontrar-se associadas à macrófitas aquáticas.



Micrasterias sp. microalga de água doce.
Em várias localidades do país, o turismo predatório se configura como uma das principais ameaças às áreas naturais remanescentes. Ecossistemas diversos irão desaparecer com a construção de infraestruturas inadequadas, especialmente os loteamentos(1,3).
Apesar do Litoral Sul de Sergipe ter sido  contemplado com a criação de uma APA (Área de Proteção Ambiental) e contar instrumentos de planejamento como o Zoneamento Ecológico-Econômico, Plano de Manejo, Planos de Intervenção das Orlas Marítimas e Conselho Gestor, os processos de degradação iniciados antes da criação da APA estão sendo intensificados, o que compromete a manutenção dos ecossistemas naturais(1).

Bibliografia consultada:
1 - OLIVEIRA, S. S. I; COSTA OLIVEIRA, D; GOMES, L. J; FERREIRA, R. A; (2008). Indicadores de sustentabilidade: diretrizes para a gestão do turismo na               APA Litoral Sul de Sergipe. Caderno Virtual de Turismo, vol. 8, núm. 2, pp. 46-55. U. F.  R J.
2 - NASCIMENTO, A. P. (2010). Análise das Atividades Antrópicas em Lagoas Costeiras. Estudo de Caso da Lagoa Grande em Paracuru-Ceará.
3 - AB’SABER, A. (2005).  Litoral do Brasil. São Paulo: Ed. Meta Livros, .
4 - ESTEVES, F. A., (1998). Fundamentos de Limnologia. 2a Ed. Rio de Janeiro, Interciência/ FINEP, 1998. 602 p.




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