Degradação ambiental (8): ALERTA, a vegetação, a fauna, o solo, o subsolo e a água continuam sendo degradados pelo sergipano, que já está se tornou vítima de seus próprios procedimentos.

Degradação ambiental (8): ALERTA, a vegetação, a fauna, o solo, o subsolo e a água continuam sendo degradados pelo sergipano, que já está se tornou vítima de seus próprios procedimentos.

S.O.S Rio São Francisco! 

A tão noticiada mancha escura que foi observada no baixo São Francisco, trata-se do florescimento de algas microscópicas denominadas 'dinoflagelados'. Resulta de um processo conhecido como eutrofização. Eutrofização ou eutroficação é um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes  num corpo d'água, provocando um aumento excessivo de microalgas. Nesse caso, os nutrientes (principalmente fósforo e/ou nitrogênio) são provenientes de ações antrópicas como as atividades industriais, domésticas e agrícolas. 

Mancha escura observada nas águas do Rio São Francisco. Foto: Clóvis Franco.

Como se não bastasse, os dinoflagelados Ceratium furcoides e C. hirundinela (mancha escura), dividem espaço com uma cianobactéria tóxica, Cylindrospermopsis raciborskii. A coloração verde-azulada observada na água é decorrente do acúmulo dessa cianobactéria. 

Dinoflagelados e cianobactérias presentes na água. Foto: Clóvis Franco.

Cachoeiras de esgotos sem tratamento, podem ser vistas ao longo do trajeto entre Xingó e Paulo Afonso. Uma tragédia anunciada!

Esgotos sem tratamento sendo lançados nas águas do Rio São Francisco. Foto: Clóvis Franco.

Neste ponto do rio, as águas ficam de cor verde escuro devido a presença de diversos grupos de algas que denunciam a eutrofização. São Clorofíceas, Euglenofíceas, Criptofíceas, Dinofíceas, etc. Todas formando densos florescimentos, ou 'blooms'.

Florescimentos de vários grupos de microalgas. Foto: Clóvis Franco.

Com raras exceções, florescimentos ('blooms') causam efeitos nocivos em comunidades aquáticas, desestabilizando o ecossistema. Considerando-se as cianobactérias o grande problema está relacionado com a produção de toxinas, as quais podem prejudicar mananciais de abastecimento de água potável.

Duas das toxinas produzidas por Cylindrospermopsis raciborskii, são a cilindrospermopsina, um alcaloide com ação no fígado e rins (OHTANI ET AL. 1992, LAGOS ET AL. 1999) e a potente toxina paralisante do tipo PSP (Paralytic Shellfish Poisons), que age no sistema neuromuscular (LAGOS ET AL. 1999). 

As espécies de dinoflagelados que causam a mancha escura, felizmente, não são tóxicos. Mas, a grande população produz efeitos nocivos para as comunidades aquáticas por promoverem condições anóxicas.

Vale a pena ressaltar os extensos bancos da macrófita flutuante - Eichhornia crassipes(Mart.) Solms. A qual é uma boa indicadora de ambientes eutrofizados. Sua importância reside em sua capacidade e estocagem e ciclagem de nutrientes, interferência na penetração de luz na água e na competição por nutrientes (BEYRUTH 1992, 1994). 

Pesca e turismo no Baixo São Francisco. Fotos: Clóvis Franco

Enfatizamos que em toda a região amostrada foi registrada a ocorrência de cianobactérias tóxicas, cujas densidades estão acima dos parâmetros máximos estabelecidos na resolução 357 do CONAMA (art.14, inc.. II, art.15, inc. VIII, e art. 16, inc. II).

Atividades como a pesca e o turismo, podem ser muito prejudicadas se os problemas relatados não receberem a devida atenção por parte dos governos dos três estados envolvidos (Sergipe, Bahia e Alagoas). Em Sergipe, como sempre, os órgãos ambientais e também a DESO tentam minimizar suas responsabilidades. É bom lembrar do desabamento da ponte de Areia Branca, o que causou um transtorno sem precedentes no abastecimento d'água para o estado!

NO CASO DO RIO SÃO FRANCISCO, OS PROBLEMAS SERÃO DE MAIOR GRAVIDADE!

Literatura Utilizada:

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA n° 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, n. 53, 17 mar. 2005. Seção 1, p. 58-63.Alterada pelas Resoluções nº 370, de 2006, nº 397, de 2008, nº 410, de 2009, e nº 430, de 2011.                                              Complementada pela Resolução nº 393, de 2009.

Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459.

BEYRUTH, Z. 1994. Eichhornia crassipes (Mart.) Solms. Aspollution indicator. Verhandlungen der InternatonalenVereinigung fur Theorestische und AngewandteLimnologie 545:1-4.

CAVALCANTE, P. K. et al. First record of expansive Ceratium Schrank, 1793 species (Dinophyceae) in Southern Brazil, with notes on their dispersive patterns in Brazilian environments. CheckList. v. 9. n.4, p.862–866, 2013.

FERRAREZE, M.; NOGUEIRA, M.G. Phytoplankton assemblages and limnological characteristics in lotic systems of the Paranapanema Basin (Southeast Brazil). Acta Limnol. Bras., v.18, n.4. p.389-405, 2006.

LAGOS, N., ONODERA, H., ZAGATTO, P.A., ANDRINOLO, D., AZEVEDO, S.M.F.Q. & OSHIMA, Y. 1999. The first evidence of paralytic shellfish toxins in the freshwater cyanobacterium Cylindrospermopsis raciborskii, isolated from Brazil. Toxicon 37:1359-1373.

MATSUMURA-TUNDISI, T., TUNDISI, J.G., LUZIA, A.P. & DEGANI, R.M. 2010. Occurrence of Ceratium furcoides (Levander) Langhans 1925 bloom at the Billings Reservoir, São Paulo State, Brazil. Braz. J. Biol. 70(3):825-829.

OHTANI, I., MOORE, R.E. & RUNNEGAR, M.T.C. 1992. Cylindrospermopsin: a potent hepatotoxin from the bluegreen alga Cylindrospermopsis raciborskii. Journal of the American Chemical Society 114:7941-7942.

PITCHER, C. G.; PROBYN, A. T. Anoxia in southern Benguela during the autumn of 2009 and its linkage to a bloom of the dinoflagellate Ceratium balechii. Harmful Algae 11 (2011) 23–32.

SILVA, L. C., et al. Invasion of the dinoflagellate Ceratium furcoides(Levander) Langhans 1925 at tropical reservoir and its relation to environmental variables. Biota Neotropica. v..12. n.2. p.93-100. 2012.